Blog do Prof. Pascoal Vaz

sábado, 5 de novembro de 2011

O DRAMA DE UM BEBÊ DE CINCO MESES

Acabo de ler editorial de A Tribuna de 04/11/11 sobre bebê internado no Hospital Guilherme Álvaro. Sofre de cardiopatia congênita e não pode ser operado por falta de vaga em UTI/SUS. Impossível conter a revolta. Não se trata de um caso, de um “acaso”. A situação da saúde no Brasil é corriqueiramente calamitosa. E nos municípios da Baixada Santista também. São inúmeras as denúncias de mau atendimento, ou de nenhum. Há pouco, uma senhora de 78 anos ficou vinte dias com o fêmur partido aguardando cirurgia na Santa Casa, uma criança morreu no HGA por falta de UTI. A espera por consultas e exames é enorme. Os serviços de urgência são deprimentes.
Agora, o caso desse bebê. O médico César Conforti, profissional reconhecidamente competente acusa, sem meias palavras, que muitas crianças têm morrido por falta desses leitos e que se dez novos leitos forem abertos, ainda assim serão poucos.
Vi homens colocando tapumes em canteiro de obras no posto da praia do emissário submarino em Santos em pleno feriado nacional de Finados. As obras do Itaquerão, para o qual foram cedidos R$ 420 milhões de recursos públicos, estão sendo aceleradas com trabalho em turno para garantir que fiquem prontas até a Copa do Mundo. O trem bala que transportará quarenta mil passageiros/dia entre S. Paulo e Rio custará R$ 50 bilhões, montante que seria suficiente para ampliar o metrô paulistano no atendimento de mais 6 milhões de passageiros/dia. Nos últimos tempos, nos chegam notícias de bilhões de dólares para o pré-sal, da triplicação do movimento do porto santista em poucos anos, do “boom” imobiliário e milionário. Está sendo dada a mesma priorização e urgência, por exemplo, à reativação do Hospital dos Estivadores e à reforma da UTI pediátrica do HGA?
Especialmente em país das desigualdades do Brasil, as decisões comandadas pelos preceitos capitalistas exigem controle estatal. Os homens públicos precisam ter a qualidade de compreender isto e se esmerar em políticas públicas que corrijam as tão conhecidas falhas do mercado na alocação dos recursos sociais, o egoísmo dos insensíveis e o atrevimento despudorado dos corruptos ativos e passivos.
Desejamos todos que Lula se restabeleça plenamente. Votei nele, tornarei a votar se for candidato novamente pois, se nada mais tivesse feito, concretizou o conceito de inclusão social como direito fundamental e natural. Dilma vai no mesmo caminho. Sinto que ambos têm compromisso com os mais pobres. Por isso aceito que tratem seus cânceres em serviço privado, pagos por seus planos de saúde, como eu mesmo fiz. Mas é inevitável pensar que estaríamos provavelmente todos mortos se fôssemos atendidos normalmente pelo serviço público de saúde. Espero que o sentimento de que fomos privilegiados pela dádiva de continuar vivendo, ao ter acesso a serviços de qualidade de primeiro mundo, aguce ainda mais em Lula e Dilma o sentimento de injustiça em relação aos que não têm a mesma oportunidade.
Confesso que meu coração conflita com meu cérebro, pois a razão me diz que, se todos, homens públicos, empresários e povo em geral, tivessem suas vidas valorizadas igualmente e fossem todos tratados por um mesmo sistema universal de saúde pública, a qualidade destes serviços seria muitíssimo melhor.
Se esse curumim de cinco meses morrer, quem vai para o banco dos réus? Para os que não sabem, curumim é expressão tupi-guarani que significa exclusivamente criança. A língua indígena não possui palavra para designar filho ou neto. Entre aqueles “bárbaros”, todos são filhos de todos.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Artigo desnuda saúde no Brasil

Lençol que forra bolsos falta nas macas

Por Maria Cristina Fernandes
Passou quase desapercebida pela classe média, embora diga respeito à saúde de 145 milhões de brasileiros que usam exclusivamente o SUS, a manifestação nacional de médicos da última terça-feira.
A pauta dos manifestantes não inclui a reedição da CPMF mas é cristalina na argumentação de que a vida não tem preço mas a medicina tem um custo.
A explosão de consumo no Brasil corta lençóis infectados de hospitais de excelência para forrar o bolso de calças jeans. A mesma classe C que enche as sacolas é atendida em hospitais em que macas sem lençóis são o menor dos problemas.
As imagens de pacientes entubados no chão ou sentados segurando o próprio soro são comuns aos telespectadores. Os números apresentados pela pauta dos manifestantes são menos conhecidos.
Nos últimos dez anos, segundo o Conselho Federal de Medicina, o SUS perdeu 203 mil leitos. Em 20 Estados, o número de leitos disponível é menor do que o recomendado pelo Ministério da Saúde. Centenas de hospitais Brasil afora descredenciaram-se da rede pública e passaram a atender a pacientes de planos privados de saúde.
Consulta pediátrica é remunerada no SUS por R$ 2,50
A tabela de honorários do SUS para os procedimentos médicos é uma parte da explicação. O Sistema Único de Saúde paga R$ 2,50 por consulta de um pediatra de hospital público. Por um parto normal que leva dois dias de internação e ocupa dois obstetras e um anestesista a tabela prevê o pagamento de R$ 175,80. Um paciente que chegue a um hospital para se tratar de um acidente vascular cerebral fica internado durante uma média de sete dias. O SUS prevê que o neurologista que fica a cargo deste paciente receba R$ 9,40 por dia.
Não surpreende, portanto, que os concursos públicos para médicos custem a preencher suas vagas enquanto a classe média alta se orgulha em pagar R$ 900 por uma consulta com "meu médico".
Em discurso que fez na aula inaugural do curso de Medicina do campus de Garanhuns da Universidade de Pernambuco no mês passado, a presidente da República Dilma Rousseff disse ter por meta acrescentar 4,5 mil médicos aos 16,5 mil que as faculdades jogam anualmente no mercado.
Creditar a crise na saúde à ausência de médicos é mais ou menos como atribuir os gargalos da infraestrutura ao apagão de engenheiros.
É só observar a curva da Selic nas últimas décadas para entender por que o mercado financeiro virou o grande empregador de engenheiros no país.
Da mesma forma, basta examinar a tabela de honorários do SUS para entender por que sobram médicos na rede privada e faltam na pública. São Paulo, por exemplo, o Estado melhor aparelhado de hospitais privados, tem, proporcionalmente, mais médicos que o Canadá. Os 20 mil habitantes de Oiapoque (AP), cidade a 500 km da capital, contam com apenas dois médicos. No Estado inteiro registram-se apenas cinco psiquiatras para uma população de mais de 600 mil habitantes.
O Conselho Federal de Medicina argumenta que os médicos só serão melhor distribuídos pelo território nacional quando tiverem uma carreira de Estado, assim como o Judiciário ou o Ministério Público. É a esta diferença, e não apenas a um salário de entrada na magistratura em média três vezes mais alto que os R$ 1.946 da média nos hospitais do setor público, que Aloísio Tibiriçá atribui o fato de que há sempre um juiz em pequenas comarcas do interior mas faltam médicos.
A carreira de Estado vai de encontro à transformação de hospitais públicos em fundações adotadas em vários Estados e objeto de um projeto de lei que tramita no Congresso Nacional.
Os manifestantes da terça não defendem a aprovação de um novo imposto para a saúde. Preferem a redução da Selic e o aumento da arrecadação. Como todos os militantes do setor, Aloísio Tibiriçá saca de pronto a numeralha: a cada ponto a menos na Selic o Tesouro economiza R$ 10 bi. Com o corte de três pontos a Saúde teria o que precisa - se a torcida do Corinthians também não quisesse o mesmo.
Militam pela regulamentação da emenda 29, que prevê o mínimo de recursos que União, Estados e municípios devem aplicar na saúde. Defendem o projeto que tramita no Senado e não o da Câmara. O primeiro prevê a elevação de gastos até 10% do PIB. O da Câmara não aumenta gastos, apenas coíbe o desvio de recursos da saúde para outras rubricas.
Adam Przeworski, cientista político polonês radicado nos Estados Unidos e professor da Universidade de Nova York fez recentemente um palestra em São Paulo. Analisou os dados de vários países tentando explicar por que a globalização não tinha sido capaz de reduzir a desigualdade. Fincou o pé no argumento de que políticas públicas que universalizam oportunidades na educação e na saúde são muito mais eficazes na redução da pobreza do que as políticas de redistribuição de renda que não proporcionam as condições de uma melhoria continuada.
Ao chegar no caso brasileiro, Przeworski pediu desculpas aos dois últimos presidentes que estabilizaram a moeda e expandiram o Bolsa Família para afirmar que o programa mais eficaz na redução da pobreza no Brasil foi o SUS, criado pela Constituição de 1988, em pleno governo José Sarney.
Foi a partir do SUS que o Brasil reduziu a mortalidade e aumentou a longevidade. As crianças sobreviventes passaram a ter pais com mais tempo de vida para lhes prover uma melhor subsistência.
Com o envelhecimento da população, porém, cresceram as doenças crônicas, mais caras no diagnóstico e tratamento. Com o aumento da violência, os serviços de emergência e de UTI, presentes hoje em apenas 10% dos municípios, também passaram a ser mais demandados.
Tanto os que envelhecem sem franco acesso à assistência médica quanto as vítimas de violência são majoritariamente recrutados entre os mais pobres, usuários do SUS. A precarização de seu atendimento é, portanto, a ameaça mais latente para que o sistema, de revolucionário programa social, passe a contribuir para o retrocesso das condições de vida da população.
Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

Maria Cristina Fernandes

Maria Cristina Fernandes é editora de Política e colunista do Valor Econômico desde a fundação do jornal em maio de 2000. Integrou a equipe que fundou a revista "Época", publicação da qual foi repórter especial. Foi editora de Política da "Gazeta Mercantil", subeditora da revista "Veja" e repórter do "Jornal do Comércio". É formada em jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco e em História pela Universidade Federal de Pernambuco. É mestre em Política Comparada pela Universidade de Paris I e em Política Latino-Americana pela Universidade de Londres.



terça-feira, 20 de setembro de 2011

CÃES FREQUENTEMENTE DEIXAM DE SER "DÓCEIS"

Transcrevo artigo de Rafael Motta, em A Tribuna. Veja, a seguir, meu comentário.

 

O homem precisa se mostrar racional

Baixada Santista
Postado por: Rafael Motta - Subeditor de Baixada Santista - 20/09/2011


    Este leigo em animais pergunta: os cães têm maldade ou agem por instinto? Dúvida à parte, sabe-se que o treinamento e condições adequadas de alojamento e alimentação são capazes de condicionar um cachorro a manter o controle – e, mesmo, a ´perdê-lo´ diante de um criminoso ou um fugitivo.

    Muitos veem seus cães como filhos e assim os tratam. Portanto, um animal também precisa ser educado, adestrado, ter limites impostos, para que não venha a se tornar uma ameaça à segurança de outros bichos e pessoas próximos a ele. Com gente, cuja ´vantagem´ está em ser racional, é assim.

    Mas há quem tenha em seu cachorro um brinquedo ou um segurança de quintal. Esses são os donos irresponsáveis, que, a julgar pela frequência com que se publicam reportagens de ataques de cães a pedestres de quaisquer idades, estão em todo canto impunemente.

    Vive-se um estágio social no qual se tenta, com justiça, ampliar os direitos dos animais. Moradia digna, vacinas, erradicação de maus-tratos e do abandono. Pois fica a sugestão: só terá direito de adotar um animal, sobretudo se for de raça tida como violenta, quem comprovar que pode mantê-lo.

    Não se pode permitir a um idoso frágil passear com dois rottweilers, pelos quais acaba sendo arrastado. Deve-se impedir que uma criança fique em companhia de um cão maior do que ela. Maldade? Mas, e o instinto animal? Ora, racionais devem ser os humanos. Que não se atribua aos cães um discernimento que não têm.
     
    COMENTÁRIO DO PASCOAL
    Meu cão é de raça brava mas é "dócil" e "treinado". É assim que ouço falar. Este é o grande engano, inclusive por pessoas de bem. Frente qualquer atitude devemos sempre pesar a "probabilidade" de algo acontecer contra a "gravidade" se esse algo ocorrer. Se a "gravidade" é alta, sérias providencias devem ser tomadas mesmo que a "probalilidade" de ocorrência seja baixa. Tem acontecido com frequencia pessoas e animais serem mortos por esse tipo de cachorro. SUGESTÕES: a) um telefone de emergência para quando nos defrontarmos com pessoas passeando com cachorro bravo sem guia e fucinheira. A lei estadual está aí: 11531/03. É preciso denunciar tais pessoas. b) Ampla campanha sobre o assunto.  
     

    sábado, 17 de setembro de 2011

    MENININHA MORRE POR FALTA DE UTI

    O texto da Fabiana comove e causa indignação. A seguir a ele fiz comentário com propostas

    Postado por: Fabiana Honorato - Subeditora de Baixada Santista - 15/09/2011


      Ao ler o texto sobre a morte de uma menina de 2 anos e dez meses, por falta de uma unidade de terapia intensiva (UTI) no Hospital Guilherme Álvaro (HGA), em Santos, tive a vontande instintiva de pegar minha bolsa, levantar da minha mesa de trabalho e correr para casa, ao encontro dos meus filhos. Um deles com idade próxima à da criança que veio de Cananeia em busca do hospital tido como referência na região.

      Impossível não fazer comparações numa situação destas. Da mesma forma, impossível não se comover, indignar, revoltar ao saber que uma vida fora perdida pela ausência de uma estrutura adequada.

      Mas seria muito cômodo, no conforto da minha casa, lamentar a perda que uma família chora exatamente agora.

      Assim como os funcionários que denunciaram o caso a A Tribuna, espero fazer parte de uma corrente que resulte na mudança de uma situação triste e perigosa para toda a região.

      Seria necessário tanto tempo para a reforma de um setor imprescindível para toda a região? De que forma o hospital poderia reverter a carência destes leitos, garantindo a mesma estrutura para quem precisa do atendimento na UTI? Quantas crianças precisarão morrer para que o Governo do Estado perceba a urgência de mais leitos pediátricos de UTI na Baixada Santista.

      São questionamentos que muitos se fazem e para os quais faltam respostas coerentes e convincentes. Afinal, não podemos aceitar que um hospital do porte do HGA precise dividir seus especialistas entre dois setores por falta de profissionais que aceitem o salário oferecido para tamanha responsabilidade.

      No entanto, fica muito fácil decidir certas reestruturações, para encobrir o sol com a peneira, sentando em uma sala climatiza e sendo servido com cafezinho fresco.

      Se, por um instante, os donos da caneta se colocassem no lugar dos pais da menina de Cananeia talvez os rumos da saúde na região e no Brasil poderiam começar a mudar.

      Não é porque eu posso ter um atendimento privilegiado, graças ao plano de saúde, que deixarei de lado a briga pela saúde pública de qualidade.

      Vale lembrar, ainda, que as eleições estão batendo à porta e é nesta hora que podemos separar o joio do trigo, escolhendo quem se compremete com a nossa região, na teoria e na prática. E excluindo aqueles que nos usam como plataforma, para galgar a passos largos a escadaria do poder, sem nada fazer pelos seus eleitores.

      Diante de um desfecho tão triste e irreparável como a morte de um filho, talvez a indignação possa nos instigar a fazer melhores escolhas e cobrar a execução de medidas que assegurem os direitos básicos de um cidadão.

      Para que as lágrimas não corram em nossos próprios rostos.

      Comentários

      José Pascoal Vaz , 17/09/2011
      A dor e a indignação da Fabiana é a dor de todos nós. O ponto central é mesmo a indiferença daqueles que deveriam fazer sua obrigação e não fazem, simplesmente porque não se colocam no lugar dos mais necessitados. É que, quando precisam, são atendidos em serviços privados. Seria o caso de os governantes e seus nomeados (sejam do executivo, legislativo, judiciário) se comprometerem, ao tomar posse, a dar preferencia aos serviços públicos de saúde em caso de adoecerem, e sem privilégios no atendimento quanto à espera e qualidade. Mas isto é utopia. De concreto poder-se-ia criar um Observatório da Saúde. Não sabemos nada, e creio que as autoridades tb. não, sobre o atendimento público e privado da saúde na Bx. Santista. Sabemos do caos por casos que nos chegam, como o da velhinha que ficou 20 dias de femur quebrado à espera de cirurgia por falta de vagas, da estúpida morte dessa menininha etc. Com informações corretas poderiamos pressionar fortemente as autoridades. 

      quinta-feira, 8 de setembro de 2011

      A ECONOMIA DA FELICIDADE

      Este artigo foi publicado originalmente no jornal Valor Econômico, 30-08-2011


      30/08/2011 0

      A economia da felicidade

      Por Jeffrey D. Sachs
      Vivemos em tempos de altas ansiedades. Apesar de o mundo usufruir de uma riqueza total sem precedentes, também há ampla insegurança, agitação e insatisfação. Nos Estados Unidos, uma grande maioria dos americanos acredita que o país está "no caminho errado". O pessimismo está nas alturas. O mesmo vale para muitos outros lugares.
      Tendo essa situação como pano de fundo, chegou a hora de reconsiderar as fontes básicas de felicidade em nossa vida econômica. A busca incansável de rendas maiores vem nos levando a uma ansiedade e iniquidade sem precedentes, em vez de nos conduzir a uma maior felicidade e satisfação na vida. O progresso econômico é importante e pode melhorar a qualidade de vida, mas só se o buscarmos junto com outras metas.
      Nesse sentido, o Reino do Butão vem mostrando o caminho. Há 40 anos, o quarto rei do Butão, jovem e recém-entronado, fez uma escolha notável: o Butão deveria buscar a "Felicidade Nacional Bruta" (FNB), em vez do Produto Nacional Bruto (PNB). Desde então, o país vem experimentando uma abordagem alternativa e holística em relação ao desenvolvimento, que enfatiza não apenas o crescimento da economia, mas também a cultura, saúde mental, compaixão e comunidade.
      Dezenas de especialistas reuniram-se recentemente na capital do Butão, Thimbu, para fazer um balanço sobre o desempenho do país. Fui um dos coanfitriões, com o primeiro-ministro do Butão, Jigme Thinley, um líder em desenvolvimento sustentável e grande defensor do conceito de "FNB". A reunião ocorreu na esteira da declaração de julho da assembleia geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que convocou os países a avaliar como as políticas nacionais podem promover a felicidade em suas sociedades.
      Devemos sim apoiar o desenvolvimento e crescimento econômico, mas apenas dentro de um contexto mais amplo: um contexto que promova a sustentabilidade ambiental e os valores da compaixão e honestidade, necessários para criar a confiança social.
      Todos os que se reuniram em Thimbu concordaram sobre a importância de buscar a felicidade em vez da renda nacional. A questão que examinamos é como alcançar a felicidade em um mundo caracterizado pela rápida urbanização, meios de comunicação de massa, capitalismo global e degradação ambiental. Como nossa vida econômica pode ser reordenada para recriar um senso de comunidade, confiança e sustentabilidade ambiental?
      Estas foram algumas das conclusões iniciais. Primeira, não devemos menosprezar o valor do progresso econômico. Há sofrimento quando as pessoas passam fome, quando são privadas do atendimento de necessidades básicas, como água potável, atendimento médico e educação, ou empregos dignos.
      Segunda, a busca contínua do PNB, sem levar em conta outros objetivos, tampouco é caminho para a felicidade. Nos EUA, o PNB subiu acentuadamente nos últimos 40 anos, mas a felicidade, não. Em vez disso, a busca obstinada do PNB levou a grandes desigualdades de riqueza e poder - alimentadas pelo crescimento de uma grande subclasse --, aprisionou milhões de crianças na pobreza e provocou grave degradação ambiental.
      Terceira, a felicidade é alcançada por meio de uma abordagem de vida equilibrada, entre indivíduos e sociedade. Como indivíduos, somos infelizes quando nos é negado o atendimento de necessidades básicas materiais, mas também somos infelizes se a busca por rendas maiores substitui nosso foco na família, amigos, comunidade, compaixão e equilíbrio interno. Como sociedade, uma coisa é organizar políticas econômicas para manter os padrões de vida em alta, mas outra bem diferente é subordinar todos os valores da sociedade à busca do lucro.
      A política nos EUA, contudo, permitiu cada vez mais que os lucros empresariais dominassem todas as outras aspirações: igualdade, justiça, confiança, saúde física e mental e sustentabilidade ambiental. As contribuições de empresas a campanhas corroem cada vez mais o processo democrático, com a benção da Corte Suprema dos EUA.
      Quarta, o capitalismo global apresenta muitas ameaças diretas à felicidade. Está destruindo o ambiente com as mudanças climáticas e outros tipos de poluição, enquanto um fluxo incansável de propaganda da indústria petrolífera leva muitas pessoas a desconhecer o problema. Isso enfraquece a estabilidade mental e confiança social, com a incidência de depressões clínicas aparentemente em alta. Os meios de comunicação de massa se tornaram meio de distribuição de "mensagens" empresariais em grande parte abertamente contra a ciência, enquanto os americanos sofrem de um número cada vez de vícios de consumo.
      Consideremos como as lanchonetes de refeições rápidas usam óleos, gorduras, açúcares e outros ingredientes viciantes que criam uma dependência, prejudicial à saúde, em relação a alimentos que contribuem para a obesidade. Cerca de 30% dos americanos são obesos na atualidade. O resto do mundo acabará seguindo o mesmo caminho, a menos que os países restrinjam práticas empresariais perigosas, como a publicidade, voltada a crianças, de alimentos viciantes e prejudiciais à saúde.
      O problema não está apenas nos alimentos, a publicidade voltada às grandes massas contribuiu para muitos outros vícios de consumo, que implicam em altos custos à saúde pública, incluindo o hábito de ver televisão em excesso, apostas, uso de drogas, fumo e alcoolismo.
      Quinta, para promover a felicidade, precisamos identificar os muitos fatores além do PNB que podem melhorar ou piorar o bem-estar de uma sociedade. A maioria dos países investe para calcular o PNB, mas pouco gasta para identificar as fontes da má situação da área de saúde (como o fast-food e o tempo excessivo em frente à TV), o declínio da confiança social e a degradação ambiental. Uma vez que compreendamos esses fatores, teremos condições de agir.
      A busca insana pelos lucros empresariais ameaça a todos nós. Naturalmente, devemos apoiar o desenvolvimento e crescimento econômico, mas apenas dentro de um contexto mais amplo: um contexto que promova a sustentabilidade ambiental e os valores da compaixão e honestidade, necessários para criar a confiança social. A busca da felicidade não deveria ficar confinada ao belo reino montanhoso do Butão.
      Jeffrey D. Sachs é professor de Economia e diretor do Instituto Terra, da Columbia University. É também assessor especial do secretário-geral das Nações Unidas sobre as Metas de Desenvolvimento do Milênio. Copyright: Project Syndicate, 2011.

      quarta-feira, 7 de setembro de 2011

      ALGUMAS FRASES DE ESPERANÇA NESTE 7/SET EM BRASÍLIA

      Uma multidão foi ao "desfile" hoje, com frases como:

      ·       Político tem que usar serviço público
      ·       Roriz nunca mais
      ·       Pelo fim do voto secreto no plenário
      ·       Corrupção é crime hediondo
      ·       A revolução é você
      ·       País rico é país sem corrupção
      ·       Mais faxina
      ·       Corrupção: câncer da sociedade
      ·       Lugar de ladrão é no congresso do inferno

      ACRESCENTO UMA

      ·       Quem são, onde estão os corruptores?

      PROGRAMA POBRE

      Acabo de enviar à A Tribuna a carta abaixo, com o título acima, sobre o programa de "erradicação" da extrema pobreza em Santos.

      Acabo de ler em A Tribuna de 07/09/2011 que o prefeito Papa sancionou seu projeto de “erradicação” da extrema pobreza. O programa respondeu rapidamente ao apelo da presidente Dilma para que todos se engajem na luta contra a pobreza. Foi, no entanto, maculado pela falta de discussão sobre o parâmetro decretado para delimitar a “extrema pobreza”: R$ 70,00 mensais por pessoa, também adotado pelo programa Brasil sem Miséria de Dilma. Este valor é apenas 9% do mínimo previsto pela Constituição para que uma pessoa viva com dignidade. Se uma família tem ganhos mensais de R$ 45,00 por pessoa (renda do trabalho mais outros benefícios), a prefeitura de Santos complementará com R$ 25,00 por mês totalizando, para as 2529 famílias detectadas, R$ 3,3 milhões/ano, ou 0,24% do orçamento. O Brasil tem condições de estabelecer parâmetro maior e Santos mais ainda, pois seu PIB per capita é três vezes o do país. É só priorizar melhor o gasto público. Lamentável a discussão pífia ocorrida na Câmara de Vereadores. Uma oposição mais forte teria enriquecido o programa. Mais lamentável ainda é acreditar que tal programa erradica a extrema pobreza.