Acabo de ler editorial de A Tribuna de 04/11/11 sobre bebê internado no Hospital Guilherme Álvaro. Sofre de cardiopatia congênita e não pode ser operado por falta de vaga em UTI/SUS. Impossível conter a revolta. Não se trata de um caso, de um “acaso”. A situação da saúde no Brasil é corriqueiramente calamitosa. E nos municípios da Baixada Santista também. São inúmeras as denúncias de mau atendimento, ou de nenhum. Há pouco, uma senhora de 78 anos ficou vinte dias com o fêmur partido aguardando cirurgia na Santa Casa, uma criança morreu no HGA por falta de UTI. A espera por consultas e exames é enorme. Os serviços de urgência são deprimentes.
Agora, o caso desse bebê. O médico César Conforti, profissional reconhecidamente competente acusa, sem meias palavras, que muitas crianças têm morrido por falta desses leitos e que se dez novos leitos forem abertos, ainda assim serão poucos.
Vi homens colocando tapumes em canteiro de obras no posto da praia do emissário submarino em Santos em pleno feriado nacional de Finados. As obras do Itaquerão, para o qual foram cedidos R$ 420 milhões de recursos públicos, estão sendo aceleradas com trabalho em turno para garantir que fiquem prontas até a Copa do Mundo. O trem bala que transportará quarenta mil passageiros/dia entre S. Paulo e Rio custará R$ 50 bilhões, montante que seria suficiente para ampliar o metrô paulistano no atendimento de mais 6 milhões de passageiros/dia. Nos últimos tempos, nos chegam notícias de bilhões de dólares para o pré-sal, da triplicação do movimento do porto santista em poucos anos, do “boom” imobiliário e milionário. Está sendo dada a mesma priorização e urgência, por exemplo, à reativação do Hospital dos Estivadores e à reforma da UTI pediátrica do HGA?
Especialmente em país das desigualdades do Brasil, as decisões comandadas pelos preceitos capitalistas exigem controle estatal. Os homens públicos precisam ter a qualidade de compreender isto e se esmerar em políticas públicas que corrijam as tão conhecidas falhas do mercado na alocação dos recursos sociais, o egoísmo dos insensíveis e o atrevimento despudorado dos corruptos ativos e passivos.
Desejamos todos que Lula se restabeleça plenamente. Votei nele, tornarei a votar se for candidato novamente pois, se nada mais tivesse feito, concretizou o conceito de inclusão social como direito fundamental e natural. Dilma vai no mesmo caminho. Sinto que ambos têm compromisso com os mais pobres. Por isso aceito que tratem seus cânceres em serviço privado, pagos por seus planos de saúde, como eu mesmo fiz. Mas é inevitável pensar que estaríamos provavelmente todos mortos se fôssemos atendidos normalmente pelo serviço público de saúde. Espero que o sentimento de que fomos privilegiados pela dádiva de continuar vivendo, ao ter acesso a serviços de qualidade de primeiro mundo, aguce ainda mais em Lula e Dilma o sentimento de injustiça em relação aos que não têm a mesma oportunidade.
Confesso que meu coração conflita com meu cérebro, pois a razão me diz que, se todos, homens públicos, empresários e povo em geral, tivessem suas vidas valorizadas igualmente e fossem todos tratados por um mesmo sistema universal de saúde pública, a qualidade destes serviços seria muitíssimo melhor.
Se esse curumim de cinco meses morrer, quem vai para o banco dos réus? Para os que não sabem, curumim é expressão tupi-guarani que significa exclusivamente criança. A língua indígena não possui palavra para designar filho ou neto. Entre aqueles “bárbaros”, todos são filhos de todos.
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